domingo, 11 de julho de 2021

UM TREM QUE ESCANGALHOU

"Quando Antônio Júlio de Menezes Filho, o Tonico, formou-se em Medicina, em 1942, tio Gustavo chamou o sobrinho para morar com ele em Ituiutaba, e montar consultório lá.

Era comum, na nossa família mineira, como em quase todas na época, parentes morarem uns nas casas dos outros, por motivo de trabalho, estudo, ou ajuda.

Lá foi Tonico, rapaz muito bem apessoado, de malas e muito entusiasmo, em direção à casa do tio.

Acontece que o Destino tem caminhos próprios. O trem escangalhou, como dizem as primas mineiras.

E não conseguiram consertar, a noite já chegava, ficou resolvido que, enquanto consertavam o trem, os passageiros ficariam no Minas Hotel, em Lagoa da Prata, onde pararam.

O dono do hotel, Arthur Bernardes, foi pessoalmente recepcionar os passageiros, (nem tão passageiros...).

Quando soube que havia no grupo um jovem médico de trinta anos, recém-formado e cheio de energia para trabalhar, procurou aproximar-se dele, puxar uma prosa, dar boas-vindas, apresentar a pequena cidade. Talvez já tivesse um plano em mente, talvez tenha sido uma peça do Destino, jamais saberemos.

Sem muitas delongas, juntou uns moradores, que pediram pro Tonico ficar em Lagoa da Prata. - Aqui não temos médico, disse, fique, a cidade é boa, monta seu consultório aqui. Não vai faltar freguesia.

O boca a boca foi levando gente pro hotel, quem não quer um médico numa cidade sem nenhum? Ainda mais um jovem bonito, educado, encantador. Não parava de chegar gente esperançosa, alguns já querendo marcar consulta. Tonico estava atônito. Mal dormiu essa noite. O dono do hotel deixou o melhor para o final.

Na manhã seguinte, apresentou ao médico sua filha, Elza Bernardes, a moça mais bonita de Lagoa da Prata.

Assim que a viu, Tonico encantou, e tomou sua decisão: ia ficar.

Casou-se com Elza em 1943, montou consultório em Lagoa da Prata, e tiveram nove filhos.


 

Antes do quarto filho nascer, precisaram se mudar de lá para Belo Horizonte. A família estava ficando grande demais, e o jovem médico e sua Elza tinham mais de oitenta afilhados, e ele não conseguia cobrar de ninguém.

 

O NOIVO QUE ELZA NÃO CASOU

Acontece que, antes de conhecer Tonico, Elza tinha um noivo, um engenheiro, o Lessa, que ficou abaladíssimo, mas tocou a vida pra frente, na falta de alternativa.

Fez uma ousada serenata para a já casada Elza, mas Tonico, esperto, abriu a porta e convidou os músicos e o Lessa para entrarem, ofereceu uísque para eles, e garantiu a paz na cidade e a admiração da esposa.

Muitos anos depois, em Belo Horizonte, uma das filhas de Tonico e Elza, a também belíssima Lili (Maria do Carmo de Menezes), fez amizade com duas gêmeas no colégio onde estudava.

Certa vez, na casa das amigas, conheceu o pai delas, e quem era? O Lessa! Viu na Lili os traços da bela Elza Bernardes de Menezes e, conversa vai e vem, confirmou que se tratava da filha da ex-noiva.

E desandou a relembrar o tempo de noivado, mas com tal insistência e emoção, que Lili ficou encabulada. Lessa nunca havia esquecido a noiva, e falava e falava e falava nela.

Muitos anos mais, as filhas adultas, após o falecimento de Elza, Lili encontrou entre os pertences da mãe uma foto dos noivos que nunca se casaram, com uma dedicatória do Lessa:

“Não é errado lembrar coisas boas da vida. Todo o meu amor. Sempre seu. Lessa”.


 





Elza e Tonico



Lembranças de Lili 2.2.1.6

3 comentários:

  1. E o jovem médico e sua Elza tiveram mais de 80 afilhados,o que fez com que tivessem que se mudar para BH pois a família só aumentava e ele não podia cobrar de ninguém pois ou era afilhado ou parente...

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    1. Vamos incluir essas informações. Ótimas. Depois os filhos voltaram pra lá?

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  2. Os três filhos primeiros nasceram em Lagoa da Prata e os outros seis em BH.

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