“Percebi que alguma coisa não ia bem em casa. Todos preocupados, muitas visitas, falavam baixo e de maneira ininteligível.
Minha
mãe (Ana Luíza), acamada: dera à luz um casal de gêmeos. Chamado às pressas,
viera o padre da cidade; batizara os gêmeos e ministrara a Extrema –Unção à
minha Mãe.
Meu
pai (Sinhô) chorou muito naquele dia.
Ambiente
carregado, meu Pai muito preocupado e triste.
A
vizinhança entrava e saída, cheia de cuidados. (...)
Vinte
e nove de outubro – essa data marcaria em definitivo uma época de minha vida.
(...) Percebi uma movimentação fora do comum e ouvi os soluços do meu pai!...
Não
nos queriam deixar sair, mas corremos para casa. Chegamos a tempo de assistir à
partida de minha Mãe, que ainda nos dirigiu um último olhar. Beijamos sua mão,
pedindo a bênção, como nos dissera meu Pai em prantos; minhas irmãs
encontravam-se ao lado da cama. Nas mãos de minha Mãe, uma vela acesa e um Crucifixo
que meu Pai ajudava a manter.
Morria
de tuberculose pulmonar, aos trinta e dois anos de idade e deixava quatro órfãos.
(Mariquita, Antonieta, Antônio Júlio –Tonico- e eu).
Antes
de completar oito dias, morriam os gêmeos. No mesmo dia, na mesma hora, da
mesma maneira: hemorragia bucal e nazal.
Foi
chocante ver de novo sair enterro, dois caixõezinhos, um azul, outro rosa; eram
como duas bonecas nas caixas. Ninguém lamentou; parecia até um alívio.
Sinhô
casou-se com a prima Mariquinha (1.2), filha de
Paulo Teixeira de Menezes (1). Os filhos do primeiro casamento de Sinhô
chamavam Mariquinha de Mãe Nova.
In: A rede era furta-cor, de Ana Bondespacho. Pseudônimo de Geralda
Soares de Menezes, cujo apelido era Jadica. CBAG Editora – Rio de Janeiro.
1980, Rio de Janeiro. Págs 7/15-17.
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