sábado, 10 de julho de 2021

SINHÔ (2.2) E A VIUVEZ

 “Percebi que alguma coisa não ia bem em casa. Todos preocupados, muitas visitas, falavam baixo e de maneira ininteligível.

Minha mãe (Ana Luíza), acamada: dera à luz um casal de gêmeos. Chamado às pressas, viera o padre da cidade; batizara os gêmeos e ministrara a Extrema –Unção à minha Mãe.

Meu pai (Sinhô) chorou muito naquele dia.

Ambiente carregado, meu Pai muito preocupado e triste.

A vizinhança entrava e saída, cheia de cuidados. (...)

Vinte e nove de outubro – essa data marcaria em definitivo uma época de minha vida. (...) Percebi uma movimentação fora do comum e ouvi os soluços do meu pai!...

Não nos queriam deixar sair, mas corremos para casa. Chegamos a tempo de assistir à partida de minha Mãe, que ainda nos dirigiu um último olhar. Beijamos sua mão, pedindo a bênção, como nos dissera meu Pai em prantos; minhas irmãs encontravam-se ao lado da cama. Nas mãos de minha Mãe, uma vela acesa e um Crucifixo que meu Pai ajudava a manter.

Morria de tuberculose pulmonar, aos trinta e dois anos de idade e deixava quatro órfãos. (Mariquita, Antonieta, Antônio Júlio –Tonico- e eu).

Antes de completar oito dias, morriam os gêmeos. No mesmo dia, na mesma hora, da mesma maneira: hemorragia bucal e nazal.

Foi chocante ver de novo sair enterro, dois caixõezinhos, um azul, outro rosa; eram como duas bonecas nas caixas. Ninguém lamentou; parecia até um alívio.

 

Sinhô casou-se com a prima Mariquinha (1.2), filha de Paulo Teixeira de Menezes (1). Os filhos do primeiro casamento de Sinhô chamavam Mariquinha de Mãe Nova.

 



In: A rede era furta-cor, de Ana Bondespacho. Pseudônimo de Geralda Soares de Menezes, cujo apelido era Jadica. CBAG Editora – Rio de Janeiro. 1980, Rio de Janeiro. Págs 7/15-17.

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